O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com problemas herdados dos governos do PT e a solução de um deles vai definir se aprendeu alguma coisa com o sofrimento que a Operação Lava Jato lhe impôs. Há tempo para pensar, mas não há tempo a perder. Vence no 2º semestre de 2023 o atual mandato do Procurador-Geral da República, Augusto Aras. Na experiência anterior, malsucedida até mandar parar, os presidentes petistas ficaram reféns de uma invenção que só poderia ter saído da cabeça de algum líder de barnabés. É a tal lista tríplice, que se tiver mais um vira quadrúpede. Tão estranha…
Tão estranha quanto a proparoxítona do termo é o sujeito ser submetido ao escrutínio das urnas de um país continental, obter 60 milhões de votos e ficar na mão de uma entidade com duas centenas de integrantes. Não há aqui juízo de valor acerca dos integrantes da Associação Nacional dos Procuradores da República, que elabora a lista. A mutuca está atrás das imensas orelhas de alguns exatamente porque Lula pode trazer na mente as memórias do cárcere. Se tiver refletido nos 580 dias de prisão, não vai aceitar cabresto.
O rol triplo é extraído de um grupo, que sob a Presidência de Jair Bolsonaro (PL) foi completamente isolado. E ficou igual a zagueiro que tomou cartão amarelo, não fez falta alguma. Pelo contrário, o que se vê é o equilíbrio buscado por órgãos semelhantes, para evitar compromissos espúrios. O mais notório filho da lista tríplice da temporada petista é Rodrigo Janot, aquele que frequentou armado o Supremo Tribunal Federal querendo matar ministro. Cada um saca o que tem: os ministros do STF apresentam seu arsenal nas audiências, o então PGR guardava seu trunfo na cintura.
O novo Lula deve olhar para o trio privilegiado pelos confrades e aproveitar algo do fisiologismo da categoria –aqueles 3 já estão fora da disputa. A interlocução entre o chefe do Executivo e o chefe do Ministério Público deve ser entre pessoas sem chefe. A lista tríplice tem o condão de apequenar a figura da proa, que chega ali depois de fazer toda sorte de acordo, daí todo o azar da sociedade com o produto, o engavetamento. Lula deve privilegiar o equilíbrio, evitando o naufrágio depois da miríade de icebergs que lotam o mar do coleguismo. O escolhido não pode ter arroubos populistas nem intenção de ocupar cargos políticos. Deve afugentar os poderosos esquemas de fritura instalados na mídia. Enfim, Lula precisa de alguém como Augusto Aras, o que o coloca mais no centro da cultura nacional que a nomeação de Margareth Menezes.
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